A preparação psicológica para a amamentação é crucial para o sucesso do aleitamento materno e para o bem-estar da díade mãe/bebê, também é um momento de autocuidado. A amamentação é um período de grande entrega, pode ser um processo desafiador, com possibilidades de gerar novas angústias, ansiedade, ambivalências e frustrações, a mulher precisa estar preparada para este momento para que sua amamentação seja bem-sucedida.
O Aleitamento materno envolve questões não só fisiológicas, mas principalmente as psicológicas e sociais, é no Pré-natal Psicológico que iremos abordar todos os aspectos emocionais no entorno da amamentação, e principalmente discutir se é desejo da mulher amamentar ou não. Há mulheres que já iniciam a pré-concepção convictas que não querem vivenciar essa experiência, em contrapartida, para outras mulheres é o sonho de toda uma vida, gerando muitas expectativas e anseios.
Decisões como estas, devem ser discutidas e esclarecidas ao longo da gestação, a mulher deve estar convicta quanto suas decisões e o mais importante, informada sobre todas as alterações psíquicas, emocionais e sociais que envolvem a amamentação, para que, quando chegar o momento concreto da amamentação ela não se sinta pressionada, despreparada ou até mesmo desamparada.
Muitas mulheres desistem da tão sonhada amamentação por falta de preparação emocional e falta de conhecimento sobre o assunto, não conseguindo efetivar a amamentação ou até mesmo antecipando o desmame precoce. É importante que todos saibamos que o momento da amamentação é único não só para o bebê, mas também para mãe, e que ela precisa se doar inteiramente a este momento, nossa função quanto sociedade é criar um ambiente seguro, favorável e acolhedor, para que a mulher se sinta protegida e confiante para continuar o processo de forma saudável e possível. Possível é um termo que usamos para preparamos a mulher para a amamentação real e suas intercorrências, logo, isto inclui uma amamentação bem-sucedida ou até mesmo uma eventual interrupção, rompendo com as idealizações e romantizações quanto a amamentação.
A amamentação nutre o bebê não só com nutrientes, mas também com uma profunda conexão emocional e psíquica entre a mãe e o bebê. A nutrição emocional é essencial e necessária para desenvolver o relacionamento entre ambos, pois estão se conhecendo. Se a mulher não estiver bem emocionalmente para este momento, automaticamente isso também vai reverberar na saúde do seu bebê. Sabemos que o puerpério é um período de grandes transformações, regado de conflitos e pode interferir nas tomadas de decisões das mulheres, causando inseguranças e instabilidades emocionais, que interferem diretamente na produção de leite, se a mulher apresenta altos níveis de estresse, privação de sono, falta de rede de apoio ou se sentir sobrecarregada, a produção de leite diminui significativamente, trazendo prejuízos para o processo de amamentação, causando novos conflitos internos.
A amamentação é regada de muitos mitos, como: “seu leite é fraco, seu bebê está chorando porque seu leite não sustenta”, entre outros, mas o clássico, e o mais preocupante, é o instinto, muitos acreditam que a amamentação também é instintiva, “é só colocar o bebê no peito e ele mama”, sinto dizer que ela é aprendida, o bebê não nasce sabendo mamar, ele nasce somente com o reflexo da sucção, “a mulher não nasce sabendo amamentar”, ambos têm que passar simultaneamente por este processo de aprendizagem, que pode ser exaustivo e doloroso, tanto para a mãe quanto para o bebê.
Se é um desejo da mulher amamentar, desde a gestação ela deve iniciar o processo de preparação emocional, tanto para a amamentação quanto para outros fatores que envolvem a maternidade para construir uma base segura, criando recursos emocionais para lidar com as expectativas, críticas, cobranças e culpas que envolvem o maternar, portanto, se preparar psicologicamente para este momento é importante e necessário. A assistência psicológica especializada é subjetiva e singular levando em consideração as vivências da mulher, sua história de vida, a história da gestação, suas condições socioeconômicas entre outros fatores, e se trata de um atendimento único, é uma assistência personalizada para cada mãe, trabalhando seus traumas, anseios e expectativas a fim de garantir que ela esteja preparada para sua nova jornada.
O acompanhamento psicológico também se estende no pós-parto, por meio do pós-natal psicológico, auxiliando o casal e principalmente a mulher nas possíveis intercorrências que podem vir a surgir. Pode parecer um processo fácil, mas não é, a falta de uma boa preparação emocional pode ser a causa de adoecimento psíquico, causando bloqueios emocionais em outras futuras gestações.
Flávia Matta
Esp. em Psicologia Perinatal Obstétrica
CRP 06/133511