Sabemos que a amamentação é fundamental para o desenvolvimento infantil em vários aspectos. O leite materno é considerado o melhor alimento para o bebê, rico em nutrientes, composto de várias vitaminas e minerais, contêm anticorpos que compõe o sistema imunológico, previne alergias, doenças crônicas, obesidade entre outros.
O que não se ouve falar é dos aspectos emocionais, psíquicos e cognitivos que envolve a amamentação na saúde do bebê.
O aleitamento materno é extremamente importante tanto para mãe quanto para o bebê, ambos são afetados significativamente pelo processo da amamentação.
A amamentação ajuda o bebê na autorregulação emocional, construção da autoimagem, apego, formação de vínculo afetivo entre a mãe e o bebê e desenvolvimento da personalidade. A amamentação é um dos meios em que mãe e bebê se fusiona, criam uma conexão emocional profunda tornando-se um só, ao longo desse processo eles constroem um relacionamento e intimidade. Acerca desses estudos psicanalíticos entende-se que a amamentação vai além da nutrição, é a nutrição emocional, este relacionamento é fundamental para o desenvolvimento emocional da criança, pois é através de uma construção de apego saudável esta criança construirá uma base segura para lidar com suas relações futuras no reconhecimento dos seus sentimentos quanto a si mesmo, ao outro e ao mundo.
A amamentação é uma oportunidade para a mãe se comunicar e se conectar com seu bebê, mas para isso aconteça ela deve estar atenta as suas necessidades, reconhecendo suas emoções e oferecendo um ambiente seguro, de amor e cuidado, não é somente ofertar o leite no intuito de só o alimentá-lo de forma mecânica e automática, amamentar é entrega. Logo para que a mãe consiga se entregar e fazer essa conexão emocional de forma saudável e esperada ela deve estar bem emocionalmente, mães adoecidas no puerpério também podem trazer consequências emocionais para o bebê, quando ela oferta seu leite, todo seu estresse também é passado para o bebê, pois o leite está cheio de hormônio de cortisol, deixando o bebê mais irritado e choroso, o bebê pode ficar deprimido e pode aumentar até sua pressão sanguínea. O estresse materno pode afetar o desenvolvimento do cérebro do bebê, tornando-o mais sensível as situações estressantes no futuro, no decorrer de seu desenvolvimento tem mais probabilidade de desenvolver ansiedade, depressão e TDAH.
A relação mãe-bebê é fundamental para todos os indivíduos, é através da mãe que essa criança terá amadurecimento satisfatório em seu desenvolvimento.
O leite materno desempenha um papel crucial no neurodesenvolvimento infantil, estudos indicam que o aleitamento materno está associado a um melhor desenvolvimento cognitivo, socioemocional e psicomotor, também contém nutrientes como ácido docosahexaenoico e o ácido araquidônico, que são fundamentais para o desenvolvimento cerebral, incluindo a formação das massas cinzentas e brancas, importantes para a inteligência, linguagem e aprendizado. A amamentação traz benefícios para o desenvolvimento da mastigação, fala e respiração, além de aprimorar a coordenação entre sucção, respiração e deglutição.
Um estudo da Universidade de Oxford no Reino Unido analisou dados de 7.855 bebês nascidos de uma única gestação entre 2000 e 2002 e acompanhados até os 14 anos de idade, Reneé Pereyra-Elías e seus colaboradores concluiu que as crianças que foram amamentadas tiveram maior desempenho nos estudos, todas as crianças analisadas em diferentes idades que tiveram um períodos mais longos de amamentação foram associados a escores cognitivos mais elevados, portanto crianças que são amamentadas são mais inteligentes.
Contudo a partir dessas informações conclui-se que o aleitamento materno deve ser encorajado e estimulado por todos principalmente por profissionais da área da saúde, quando for uma possibilidade ou desejo da mulher. Sabemos que não são todas as mulheres que conseguem amamentar, e as informações descritas neste texto não é para trazer culpa, mas sim, informações, a título de encorajamento, e saiba que, se não conseguir amamentar a fusão emocional, a conexão e o vínculo, também pode ser construída e desenvolvidas através de outros métodos, como por exemplo as vivencias do dia a dia, o carinho, afeto, a troca de fralda, banho e até mesmo a mamadeira, a amamentação é apenas uma ferramenta.
Flávia Matta
Esp. em Psicologia Perinatal Obstétrica CRP 06/133511