Introdução
Quando escolhi a medicina, meu propósito parecia cristalino: ajudar, salvar, curar as pessoas. Era esse o chamado que me movia, o norte que orientava minhas escolhas e sustentava minhas longas jornadas de estudo e prática. Via no ato médico um gesto de entrega e de reparação — quase um dom de restaurar a vida quando a doença se apresentava.
Com o tempo, porém, percebi que essa visão não contemplava toda a complexidade da existência humana. O percurso pessoal e profissional foi me conduzindo a uma transformação silenciosa, mas radical, na maneira de compreender a dor, o cuidado e a cura.
A virada de chave
A vida, com sua generosidade e também com sua dureza, me ensinou algo precioso: não salvo e não curo ninguém. Descobri que a cura não se encontra nas minhas mãos, mas dentro de cada ser humano, num espaço subjetivo, profundo, que transcende o corpo biológico.
O que posso oferecer é presença, escuta, ferramentas — mas o movimento real acontece no íntimo de quem se abre para o processo. Essa consciência deslocou meu olhar: de uma postura de quem “faz para” alguém, para a de quem “faz com”.
Reconhecimento da dor e da parceria
Aprendi que a dor é sempre de quem a sente. E porque é única, jamais deve ser desconsiderada, minimizada ou desqualificada. Ao invés de impor caminhos, reconheci que somos parceiras e parceiros de jornada: caminhamos juntos e juntas até onde o outro(a) pode e deseja ir.
Nesse espaço compartilhado, emerge a co-criação. Escuto, acompanho, ilumino possibilidades, mas é a pessoa, com sua história, quem decide como seguir. Assim, cada encontro se torna um exercício de respeito, humildade e compaixão. Utilizo diferentes estratégias terapêuticas: focalização do relacionamento interior, hipnose ericksoniana, constelação sistêmica familiar e contoterapia.
O novo propósito
Hoje, meu propósito não é salvar ou curar, mas algo ainda mais belo e realista: ajudar o(a) outro(a) a se ajudar. Acolher quem chega, oferecer suporte, facilitar o acesso a recursos internos e externos. Mas sempre com uma condição fundamental: se o outro(a) quiser, puder e se permitir.
Esse é o sentido que norteia minha prática atual: Co-criação. Respeito. Amorosidade. É nesse solo fértil que acredito que a vida pode florescer em cada pessoa, revelando novas formas de lidar com a dor, de encontrar alívio e de reencantar a própria existência.
Conclusão
A medicina continua a ser meu caminho, mas hoje não mais como o ofício de quem “cura”, e sim como o espaço de encontro e parceria com quem deseja se transformar. Meu porquê permanece vivo — só que amadureceu. Ele agora se sustenta no compromisso de caminhar junto, com escuta, humildade e amorosidade, ajudando cada ser a acessar a própria potência de cura.
PROFª DRª MARIA ELIZABETH DA SILVA HERNANDES CORREA
CRM:38.268. CLÍNICA BETH CORREA
AV. RIO BRANCO, 1132, SALA 73