A influência da mídia e do estilo de vida moderno na formação dos hábitos alimentares infantis; e o que os pais podem fazer para resgatar uma relação mais saudável com a comida.
Outubro é o mês das crianças: um momento de celebrar a alegria, a inocência e o aprendizado.
Mas também é um convite para refletirmos sobre o mundo em que elas estão crescendo.
Entre brinquedos, propagandas coloridas e vídeos cheios de personagens, a infância moderna vem sendo bombardeada por estímulos que moldam comportamentos, inclusive os alimentares.
Hoje, o fast food e os alimentos ultra processados se tornaram símbolos de recompensa, diversão e até de afeto. E, muitas vezes, sem perceber, os adultos também entram nesse ciclo, tentando equilibrar a rotina corrida com o desejo de agradar os filhos. Mas será que estamos alimentando o corpo e o coração das crianças da forma que elas realmente precisam?
Crianças são altamente sugestionáveis e a publicidade voltada ao público infantil explora isso com maestria: cores vivas, brindes, personagens e músicas que criam conexões emocionais com produtos.
Estudos mostram que o tempo de tela está diretamente ligado ao aumento do consumo de alimentos industrializados e açucarados.
Além disso, o hábito de comer assistindo a vídeos ou jogando interfere na percepção de saciedade e pode gerar um comportamento de alimentação automática, desconectada do corpo.
Dica prática para os pais: evite que a refeição seja acompanhada por telas. Transforme o momento de comer em uma pausa, um tempo de presença e conversa.
A correria da vida moderna e o “atalho alimentar”: a rotina de trabalho e compromissos faz com que muitas famílias recorram a opções rápidas e práticas.
Mas esse “atalho” pode se transformar num hábito difícil de reverter. O desafio está em encontrar equilíbrio entre praticidade e nutrição.
Dica prática: tenha sempre alternativas simples e nutritivas à mão — frutas picadas, sanduíches naturais, bolinhos caseiros.
Incluir as crianças no preparo também as ajuda a valorizar mais os alimentos. Comida não é prêmio, é cuidado. É comum ouvir frases como “se comer tudo, ganha sobremesa” ou “hoje é dia de festa, pode comer o que quiser”.
Essas expressões reforçam a ideia de que o alimento “de verdade” é uma obrigação, e o fast food, uma recompensa.
A consequência é emocional: a comida passa a ocupar um papel de conforto ou compensação, o mesmo que vemos em muitos adultos.
Dica prática: Mostre que o prazer também está em alimentos saudáveis: transforme o momento de cozinhar em brincadeira e afeto. A criança aprende pelo exemplo, não pela proibição.
Incentivar o contato com alimentos naturais, apresentar novos sabores, falar sobre como a comida nutre o corpo e dá energia para brincar.
A alimentação consciente começa com o olhar: observar, cheirar, saborear sem pressa. Quando os pais mudam a relação com a própria comida, as crianças seguem naturalmente esse caminho.
Educar o paladar de uma criança é também educar o seu coração.
Mais do que restringir, é sobre ensinar, com paciência, presença e amor; que o alimento é uma forma de cuidar de si.
E talvez o melhor presente de Dia das Crianças seja esse: uma infância com menos telas, menos culpa e mais momentos à mesa, com sabor de verdade e afeto.
Por Cláudia Luiz – Nutricionista Funcional